Enquanto o governo de Luiz Inácio Lula da Silva adia o anúncio de medidas de contenção de gastos, o mercado permanece focado quase exclusivamente em preocupações fiscais. Na segunda-feira (18), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o pacote está praticamente concluído e será divulgado em breve. Essa incerteza fiscal mantém investidores e analistas atentos ao cenário econômico, com implicações diretas para o mercado de ações, a confiança no arcabouço fiscal e o futuro da economia brasileira.
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Medidas de contenção de gastos podem restaurar confiança no mercado
De acordo com analistas do BTG Pactual, o governo enfrenta uma oportunidade crucial para reconquistar a confiança dos investidores. Implementar cortes significativos de gastos nos próximos dias pode ser um passo decisivo para estabilizar o sentimento do mercado.
Os especialistas, no entanto, ressaltam que a situação é binária: ou o governo entrega um pacote que atende às expectativas mínimas do mercado ou corre o risco de gerar mais frustração. Segundo os analistas Antonio Junqueira, Bruno Lima, Carlos Sequeira, Leonardo Correa e Osni Carfi, o mercado quer ver um compromisso claro com a sustentabilidade fiscal e com um crescimento mais controlado dos gastos.
Investidores aguardam medidas para conter dívida crescente
Outro ponto crítico são os elevados níveis de dívida pública, que levantam sérias preocupações sobre a sustentabilidade da economia brasileira. O presidente Lula herdou uma dívida bruta equivalente a 72% do PIB, e economistas apontam que o índice pode alcançar 84% devido às medidas de aumento de gastos implementadas no início de seu mandato.
A equipe do BTG enfatiza que sustentar uma dívida bruta superior a 80%, com taxas reais de juros em torno de 7%, é um desafio significativo. Essa combinação pode resultar em déficits nominais ultrapassando 8% do PIB, elevando o prêmio de risco e dificultando a estabilização econômica.
Consequências para o mercado de ações e inflação
Apesar de o mercado de ações brasileiro permanecer relativamente barato e os lucros corporativos superarem as expectativas, os investidores exigem mais clareza sobre o futuro fiscal do país. Caso o governo falhe em apresentar medidas que atendam ao mínimo necessário para estabilizar a confiança, é provável que o mercado sofra mais quedas.
Além disso, analistas alertam para o risco de inflação e juros mais altos caso a deterioração fiscal não seja controlada. Isso poderá levar a uma desaceleração econômica significativa, comprometendo ainda mais o cenário para os próximos anos.
Preocupações fiscais se aproximam de níveis da era Dilma
Os ativos de risco brasileiros sofreram forte deterioração nos últimos meses, com a confiança dos investidores em baixa. O cenário atual é comparado aos piores momentos da gestão Dilma Rousseff, quando taxas reais de 10 anos de títulos públicos (NTNBs) chegaram a níveis recordes.
Embora as intenções do ministro Haddad sejam positivas, a falta de apoio político para medidas mais robustas dificulta avanços significativos no controle fiscal. Isso reforça o clima de desconfiança entre investidores, que esperam sinais concretos de compromisso do governo com uma política fiscal sustentável.