Eduardo Cotrim, gestor e sócio da JGP, analisou recentemente a situação econômica do Brasil, abordando as implicações de uma dívida pública no Brasil crescente combinada com juros altos. Segundo ele, o governo enfrenta um desafio crítico: sustentar o crescimento econômico ao mesmo tempo que lida com uma política fiscal expansionista.
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Participando do episódio 262 do programa Stock Pickers, apresentado por Lucas Collazo e Henrique Esteter, Cotrim destacou que, embora o Brasil esteja crescendo de forma contínua nos últimos três anos e com boas previsões para o próximo ano, a política fiscal atual ameaça a sustentabilidade dessa trajetória. Segundo Cotrim, o crescimento econômico deveria trazer bem-estar para a população, mas ele não vê esse efeito se traduzindo para o governo, especialmente em relação aos programas de transferência de renda.
A Popularidade do Governo e a Estagnação do Apoio Público
Um dos pontos discutidos por Cotrim é a popularidade do presidente Lula, que, apesar do crescimento econômico, permanece estagnada. Cotrim sugere que, embora o crescimento seja visível, ele não está sendo suficiente para aumentar a popularidade de Lula. Isso, segundo ele, impõe ao governo a necessidade de reconsiderar sua postura em relação ao equilíbrio fiscal.
“Estamos rodando com déficit público relativamente alto”, afirmou Cotrim. Ele ressaltou ainda a preocupação com uma possível repetição de cenários passados em que uma combinação de dívida pública elevada e juros altos trouxe problemas graves para a economia. “Tenho medo da gente estar colocando o gênio para fora da lâmpada de novo”, disse ele, referindo-se à dificuldade de equilibrar uma alta dívida com juros igualmente altos, o que pode ameaçar a solvência da economia.
Desafios da Política Fiscal e o Papel do Ministro da Fazenda
Para Cotrim, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem promovido propostas que buscam uma política fiscal mais controlada, respeitando o arcabouço fiscal do governo. No entanto, ele acredita que Haddad enfrenta resistência interna e que muitos dentro do governo não compartilham o mesmo senso de urgência para as reformas fiscais. Segundo ele, enquanto Haddad parece estar sozinho na defesa do equilíbrio fiscal, o governo como um todo não estaria adotando plenamente as medidas propostas.
O risco, de acordo com Cotrim, é que o governo pressione por mais gastos como uma medida de emergência, especialmente à medida que as eleições de 2026 se aproximam. Esse “botão do desespero”, como ele descreveu, poderia levar a decisões econômicas menos sustentáveis, com impacto negativo a longo prazo para o país.
O Cenário Internacional e a Influência do Contexto Externo
Além das preocupações locais, Cotrim também mencionou o cenário econômico internacional, comparando as políticas fiscais do Brasil e dos Estados Unidos. Nos últimos anos, ambos os países adotaram políticas fiscais expansionistas para impulsionar a economia, mas agora enfrentam o desafio de equilibrar essas políticas com as taxas de juros elevadas. Enquanto a política monetária tenta controlar a inflação, a política fiscal ainda não reduziu o ritmo de gastos, o que eleva a taxa de juros de equilíbrio.
“O fiscal foi gastador e ele leva os juros de equilíbrio para cima. As economias estão crescendo bem, mas em outro equilíbrio”, explicou Cotrim, destacando que esse cenário pressiona para que haja um ajuste na política fiscal, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.
Dívida Pública no Brasil: Equilíbrio entre Crescimento e Sustentabilidade Fiscal
Para Cotrim, o desafio agora é criar uma política fiscal que permita a continuidade do crescimento econômico sem comprometer a sustentabilidade fiscal do país. A necessidade de “tirar o pé do acelerador” na política fiscal é fundamental para abrir espaço para uma possível redução dos juros no futuro, o que beneficiaria o país como um todo. A economia brasileira, segundo Cotrim, está em um ponto de equilíbrio delicado, onde o controle fiscal e uma gestão cuidadosa da dívida pública são essenciais para evitar problemas maiores no futuro.